DISCOS
Mount Eerie
Wind`s Poem
· 15 Set 2009 · 02:33 ·

Mount Eerie
Wind`s Poem
2009
P.W. Elverum & Sun
Sítios oficiais:
- Mount Eerie
- P.W. Elverum & Sun
Wind`s Poem
2009
P.W. Elverum & Sun
Sítios oficiais:
- Mount Eerie
- P.W. Elverum & Sun

Mount Eerie
Wind`s Poem
2009
P.W. Elverum & Sun
Sítios oficiais:
- Mount Eerie
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Wind`s Poem
2009
P.W. Elverum & Sun
Sítios oficiais:
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Phil Elvrum redescobre as suas melhores melopeias feitas de realidade pastoral, com sombra black metal em fundo.
Aproveitando o nome do seu último registo enquanto The Microphones para se rebaptizar artisticamente, Phil Elvrum viu os focos que sobre si incidiam tão fortemente (lembrar as mais que laudatórias resenhas na Pitchfork circa 2000/2001) definharem gradualmente, para dar lugar a todo um outro indie marcadamente urbano, pejado de chonice pseudo-sentimental, aculturalismos brute force e experimentalismos amestrados (pontos extra para Brooklyn). Se tal situação nada tem de anómalo num meio de hiper-informação tão pouco dado à paciência e à perenidade dos seus valores, não deixa de ser verdade que as culpas recaem também na incapacidade de Elvrum de manter a bitola (extremamente alta) que o elevou ao "estrelato" indie, por força dessa espécie de tetralogia dos quatro elementos iniciada em 1999 com Don`t Wake Me Up e terminada com o já citado épico Mt. Eerie.
Até agora, nunca enquanto Mount Eerie, Elvrum encontrou aquela voz que, a espaços parecia falar por toda a humanidade em palavras e sons, cuja humildade desarmante tratou de converter em maravilhosas pérolas como It Was Hot, We Stayed In The Water ou The Glow, Pt. 2. Refugiado nessa sua pacatez, a simplicidade deu lugar a uma banalidade desinteressada. Desinteressante.
Quando o ep Black Wooden Ceiling Open viu a luz do dia no final do ano transacto, chegou envolto em névoas de uma estranhamente cada vez mais familiar conversa em torno da influência do black metal (também The Eternal prometia algo neste sentido). Por força dessa aparente dissonância entre conceito (atente-se na capa) e som, sobranceiramente alguns olhos voltaram-se (mais pela curiosidade bizarra) novamente para Elvrum, muito embora o interessante Black Wooden Ceiling Open não tenha feito mais do que lançar algumas pistas sobre este Wind`s Poem. Se todo este falatório em torno do fantasma do black metal poderá parecer apenas folclore para a crítica mais dada à mistificação, não deixa de ser possível encontrar a um nível conceptual vários pontos de contacto entre estes dois Mundos. O black metal já há muito que deixou de ser apenas a fúria primitiva profundamente anti-cristã dos anos 90 para abraçar questões de pendor mais reflexivo ou naturalista, mesmo que por uma via misantrópica, e Elvrum sempre se debateu com questões do foro da solidão e um imaginário fértil em cavernas, sangue e variadas entidades animais. Esbatido o negrume, e num contínuo chega-se com alguma boa vontade de Wind`s Poem a Striborg.
Mesmo que essa influência se tenha revelado mais claramente apenas na cabeça de Elvrum, do que numa relação causa-efeito identificável, a abertura com “Wind`s Dark Poem” lança as sementes primordiais de guitarras tortuosas de acordes menores, em devoção indie-friendly à facção mais aventureira da Califórnia. Já perto do final, “Lost Wisdom, Pt. 2” recorre de novo a essa sujidade (que sempre existiu nos seus trabalhos), com recurso a blast beat para desembocar na estaticidade nocturna de Filosofem. O resto, é a já reconhecida fragilidade de Elvrum, desta feita em contornos mais sorumbáticos. Sem espaço para canções solarengas na linha de “Karl Blau”.
Saltando, por opção, de Mt. Eerie para Wind`s Poem (ignorando todo o restante e extenso catálogo Mount Eerie, pela sua pouca premência e geral ignorância da minha parte), Elvrum deixa de lado as ambições operáticas fortemente percussivas desse registo, para se entregar a andamentos subtis amplamente texturais de teclas, onde impera novamente aquela falsa pobreza maior do que a vida. As guitarras acústicas folky do passado desapareceram por completo para dar passagem ao rendilhado planante de “My Heart Is Not At Peace”, mas, mais do que nunca, são os teclados que conduzem as composições de Wind`s Poem. Quando presentes, é a sujidade lo-fi (na linha de “The Glow, Pt. 2) que impera sobre as seis cordas, como os proeminentes power chords da caverna em “Hidden Stone” ou no turbilhão de feedback de “The Mouth Of The Sky”. Esta última, marca também um dos poucos momentos em que as baterias explosivas de outrora se fazem sentir com maior incidência. Imperam as batidas vassouradas, em passagens subtilmente rasteiras sobre os acordes planantes de “Ancient Questions” ou permitindo a respiração necessária para a envolvência final com “Stone`s Ode”.
Como facilmente se depreende pelos títulos, Wind`s Poem trata-se de uma obra conceptual, liricamente envolta num imaginário dolente, projectando a humanidade (e as suas vicissitudes) numa natureza em constante mutação. Reflexo secreto de um ser humano a braços com a sua incapacidade para (e citando Pessoa) “sentir tudo de todas as maneiras”. Deixai que o vento e as rochas falem por Elvrum, então. A música obedece a estes propósitos, transparente, mesmo quando se deixa afogar pelo ruído. Sem nunca enverdar pelos contrastes que marcaram alguns dos seus melhores momentos passados, Wind`s Poem segue os seu curso como um rio (entrando no espírito de Elvrum), numa naturalidade de processos profundamente enredada no teor lírico proposto. A épica “Through The Trees” é disso paradigma. Feita de duas notas dispostas em camadas de teclado e bateria de algodão, deixa-se levar pela voz de Elvrum até um final que, pegando em Texas Chainsaw Massacre, torna o rugir de pratos em sopro celestial. Aquela capacidade inata (?) de Elvrum de convergir sentimentos e sensações em sons demarcando-se do emular óbvio. Profundamente terreno, Wind`s Poem deita-se sem sonhar. Descansa nas suas próprias virtudes, e em suma, revela que o talento de Elvrum, apenas se perde ocasionalmente. Não se esgota. É uma questão de bom coração. Só pode.
Bruno SilvaAté agora, nunca enquanto Mount Eerie, Elvrum encontrou aquela voz que, a espaços parecia falar por toda a humanidade em palavras e sons, cuja humildade desarmante tratou de converter em maravilhosas pérolas como It Was Hot, We Stayed In The Water ou The Glow, Pt. 2. Refugiado nessa sua pacatez, a simplicidade deu lugar a uma banalidade desinteressada. Desinteressante.
Quando o ep Black Wooden Ceiling Open viu a luz do dia no final do ano transacto, chegou envolto em névoas de uma estranhamente cada vez mais familiar conversa em torno da influência do black metal (também The Eternal prometia algo neste sentido). Por força dessa aparente dissonância entre conceito (atente-se na capa) e som, sobranceiramente alguns olhos voltaram-se (mais pela curiosidade bizarra) novamente para Elvrum, muito embora o interessante Black Wooden Ceiling Open não tenha feito mais do que lançar algumas pistas sobre este Wind`s Poem. Se todo este falatório em torno do fantasma do black metal poderá parecer apenas folclore para a crítica mais dada à mistificação, não deixa de ser possível encontrar a um nível conceptual vários pontos de contacto entre estes dois Mundos. O black metal já há muito que deixou de ser apenas a fúria primitiva profundamente anti-cristã dos anos 90 para abraçar questões de pendor mais reflexivo ou naturalista, mesmo que por uma via misantrópica, e Elvrum sempre se debateu com questões do foro da solidão e um imaginário fértil em cavernas, sangue e variadas entidades animais. Esbatido o negrume, e num contínuo chega-se com alguma boa vontade de Wind`s Poem a Striborg.
Mesmo que essa influência se tenha revelado mais claramente apenas na cabeça de Elvrum, do que numa relação causa-efeito identificável, a abertura com “Wind`s Dark Poem” lança as sementes primordiais de guitarras tortuosas de acordes menores, em devoção indie-friendly à facção mais aventureira da Califórnia. Já perto do final, “Lost Wisdom, Pt. 2” recorre de novo a essa sujidade (que sempre existiu nos seus trabalhos), com recurso a blast beat para desembocar na estaticidade nocturna de Filosofem. O resto, é a já reconhecida fragilidade de Elvrum, desta feita em contornos mais sorumbáticos. Sem espaço para canções solarengas na linha de “Karl Blau”.
Saltando, por opção, de Mt. Eerie para Wind`s Poem (ignorando todo o restante e extenso catálogo Mount Eerie, pela sua pouca premência e geral ignorância da minha parte), Elvrum deixa de lado as ambições operáticas fortemente percussivas desse registo, para se entregar a andamentos subtis amplamente texturais de teclas, onde impera novamente aquela falsa pobreza maior do que a vida. As guitarras acústicas folky do passado desapareceram por completo para dar passagem ao rendilhado planante de “My Heart Is Not At Peace”, mas, mais do que nunca, são os teclados que conduzem as composições de Wind`s Poem. Quando presentes, é a sujidade lo-fi (na linha de “The Glow, Pt. 2) que impera sobre as seis cordas, como os proeminentes power chords da caverna em “Hidden Stone” ou no turbilhão de feedback de “The Mouth Of The Sky”. Esta última, marca também um dos poucos momentos em que as baterias explosivas de outrora se fazem sentir com maior incidência. Imperam as batidas vassouradas, em passagens subtilmente rasteiras sobre os acordes planantes de “Ancient Questions” ou permitindo a respiração necessária para a envolvência final com “Stone`s Ode”.
Como facilmente se depreende pelos títulos, Wind`s Poem trata-se de uma obra conceptual, liricamente envolta num imaginário dolente, projectando a humanidade (e as suas vicissitudes) numa natureza em constante mutação. Reflexo secreto de um ser humano a braços com a sua incapacidade para (e citando Pessoa) “sentir tudo de todas as maneiras”. Deixai que o vento e as rochas falem por Elvrum, então. A música obedece a estes propósitos, transparente, mesmo quando se deixa afogar pelo ruído. Sem nunca enverdar pelos contrastes que marcaram alguns dos seus melhores momentos passados, Wind`s Poem segue os seu curso como um rio (entrando no espírito de Elvrum), numa naturalidade de processos profundamente enredada no teor lírico proposto. A épica “Through The Trees” é disso paradigma. Feita de duas notas dispostas em camadas de teclado e bateria de algodão, deixa-se levar pela voz de Elvrum até um final que, pegando em Texas Chainsaw Massacre, torna o rugir de pratos em sopro celestial. Aquela capacidade inata (?) de Elvrum de convergir sentimentos e sensações em sons demarcando-se do emular óbvio. Profundamente terreno, Wind`s Poem deita-se sem sonhar. Descansa nas suas próprias virtudes, e em suma, revela que o talento de Elvrum, apenas se perde ocasionalmente. Não se esgota. É uma questão de bom coração. Só pode.
celasdeathsquad@gmail.com
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